Essa propaganda veiculada pela televisão nos anos 70 e início de 80, entrou para a história da propaganda brasileira e marcou um slogan: “aquele que gosta de levar vantagem”. Como o comercial de TV tinha como garoto-propaganda o jogador Gerson de Oliveira Nunes, levar vantagem em tudo e sempre, se transformou na Lei de Gerson! Segundo a Lei, o mundo é, definitivamente, dos espertos. Bobeou, dançou! Esse axioma ainda está embutido no inconsciente coletivo do brasileiro. Sempre que pode o brasileiro não hesita para usar a Lei de Gerson, levar vantagem.
Num mundo globalizado, numa estrutura social muito diferente da década de 70 e em sociedades e cidades onde a harmonia, o bem comum é imprescindível para coibir o uso dessa mesma lei pelos políticos profissionais, a Lei de Gerson não tem mais sentido, não cabe mais. E isso é tão verdadeiro que sempre aquele que quer “levar vantagem em tudo”, sofre a pressão social e seu respeito ético e social vai para o esgoto. Mas ainda há muitos adeptos da lei.
Para citar alguns exemplos, tantas vezes mencionados em inúmeros artigos publicados desde a criação desse axioma, o caso do trânsito tumultuado e congestionado na frente das escolas no período inicial de aulas. É um motorista ou uma motorista que procura levar vantagem no trânsito, o que provoca o caos na frente das escolas. Todos aqueles que levam os filhos para a escola deveriam estar conscientes que é um momento de paciência e que não adianta ter pressa. Se tem compromissos, saia mais cedo de casa! Numa cidade em que o caos urbano impera, não há fiscalização e o poder público está se lixando para a população, só lembra dela em período eleitoral, se pode observar veículos estacionados sobre as calçadas, calçadas que impedem o trânsito de portadores de deficiência, muitas pessoas que furam filas sejam em locais de serviço público, de lazer ou mesmo no supermercado ou outra situação. A regra é “levar vantagem”!
Mas os exemplos mais contumazes da lei de Gerson estão no trânsito. A transgressão vira regra, como a ultrapassagem pela direita e as constantes “costuras” que colocam em risco a vida de todos, inclusive daquele que comete essas imprudências. No dia-a-dia se pode verificar inúmeras caminhonetes, grandes, altas, pneus enormes que costuram o transito e só pensam em levar vantagem sobre os carros menores. É a lei da selva, a vantagem do mais forte sobre os mais fracos. Outro exemplo se apresenta em restaurantes e locais públicos fechados onde é proibido fumar. Como o pensamento é levar vantagem, ninguém se importa em acender e tragar o cigarro. E isso tudo é resultado da educação, ou melhor, da falta de educação.
É na política onde a Lei de Gerson predomina. No período eleitoral, os candidatos se transformam em verdadeiros cordeirinhos e chegam a beijar as mãos dos eleitores. Depois de eleitos se transformam em lobos e são vorazes sobre o patrimônio público. E onde essa voracidade aparece de forma muito ostensiva? Nas colunas dos jornais. É nas colunas sociais dos jornais que a elite – se se pode denominar assim – política demonstra a tendência em levar vantagem em tudo. Promovem grandes e luxuosas festas para que os colunistas, muito bem pagos para isso, publiquem suas fotos – e fica nisso, apenas fotos – que mostram para a população, para aqueles pobres que os elegeram que são poderosos, que são superiores, que levam vantagem em todos os aspectos.
A lei de Gerson está muito associada a corrupção. O que é a corrupção senão o ato de levar vantagem. E a cada dia, felizmente, a imprensa divulga atos de corrupção cada vez mais ignóbil, ou seja, de uma baixeza repugnante. A corrupção existe no país há muitos anos e, infelizmente, o brasileiro aprendeu a conviver com ela. No entanto, os fatos mais recentes de corrupção atingem o cidadão onde lhe é mais caro, nos serviços de saúde. Também infelizmente, muito atos de corrupção, quando a mídia deixa de divulgar, são esquecidos. Há muitos casos para enumerar, basta lembrar da Operação Uragano e em todos os envolvidos.
Do lado do jogador Gerson de Oliveira Nunes, até hoje é injustamente penitenciado por ter estrelado uma campanha publicitária que, involuntariamente ou não, captou uma essência básica do imaginário coletivo nacional. Fica aqui a lição, até mesmo para Gisele Bündchen e a publicidade de uma empresa de TV a Cabo, ou seja, nem sempre vale a pena aceitar todas as propostas comerciais que se recebe. (Escrita por: Gerson Luiz Martins, jornalista e professor da UFMS)
Confira o vídeo do jogador Gerson
Nenhum comentário:
Postar um comentário