terça-feira, julho 10, 2012

Endorfina: o combustível da paixão

42-20313621Você é um apaixonado; use as asas de Cupido e voe mais alto que os seres comuns, escreveu William Shakespeare em Romeu e Julieta. Estar apaixonado é muito mais do que viver um momento mágico a dois. Atualmente, a ciência sabe que as asas do Cupido dependem de reações químicas das endorfinas (um tipo de hormônio) em nosso cérebro para alçar voo. A paixão causa um turbilhão de emoções, muitas vezes contraditórias e volúveis e que podem levar a um “embaçamento” da visão crítica do outro, fazendo com que a mágica vire pesadelo.

A médica fisiologista Cibele Fabichak, especializada em neurobiologia do amor, autora do livro Sexo, Amor, Endorfinas & Bobagens (Editora Novo Século), explica que a paixão, fase inicial do amor, é um estado alterado do cérebro, em que um coquetel de hormônios (as endorfinas) e de outras substâncias provoca euforia, intensa busca por satisfação e sensação indisfarçável de felicidade.

É aí onde mora o perigo: morar junto precocemente, comprar um imóvel junto, emprestar dinheiro para o parceiro ou até engravidar sem planejamento podem ser exemplos de equívocos cometidos por casais submersos nos hormônios da paixão, comenta.

 

Características - Entre os sinais característicos da paixão, estão euforia, intensa busca por satisfação sexual, sensação indisfarçável de felicidade, respiração acelerada, pensamentos obsessivos, a focalização insistente somente nas qualidades do ser amado.

Os estudos indicam que isso ocorre em função de certos hormônios e substâncias que “ligam” áreas cerebrais do prazer e “desligam” algumas áreas do julgamento crítico. A endorfina – um tipo de opioide – é liberada no cérebro em grandes quantidades durante a paixão e produz uma sensação de prazer e relaxamento.

Este mesmo estado inibe outras regiões que reduzem o discernimento crítico sobre o ser amado, explica a médica. “O cérebro nos engana e cria uma percepção irreal do outro, em que defeitos não existem, o medo do desconhecido é drasticamente reduzido, e os critérios de avaliação racional do parceiro estão muito diminuídos”, alerta a especialista.

Diminuir as expectativas ajuda a ver melhor o outro

O antídoto para as loucuras da paixão sugere Cibele Fabichak, seria reduzir racionalmente as expectativas enquanto se busca o conhecimento do outro. A saída para o indivíduo apaixonado é não perder de vista o que se passa em seu corpo, onde “o trio – sexo, paixão e endorfinas – pode levar a desfechos trágicos e até mortais”.

É importante trazer a racionalidade para dentro de um momento irracional, fazer um check-list para poder decolar com segurança. “As expectativas são criadas cumulativamente no decorrer da vida. Criam-se modelos futuros de candidatos a paixão, o ser perfeito”. Ela lembra que em alguns países orientais os casamentos iniciam-se sem o conhecimento prévio do casal, que se relaciona sem paixão. Apesar disso, estudos revelam que entre os casais indianos, que se encontraram dessa forma e vivem há mais de 20 anos juntos, o contentamento é maior do que o verificado na sociedade ocidental. “Eles entram no relacionamento com zero por cento de expectativa e vivem uniões duradouras”, afirma.

A especialista lembra que muitos apaixonados já sofreram por não enxergar os defeitos do ser amado. “Por isso acho que vale a pena meditarmos um pouco mais sobre esse turbilhão de emoções e hormônios com que convivemos diariamente, buscando conhecer melhor a química da paixão, para fazermos boas escolhas em nossa vida”, aponta.

 

Onde moram as emoções:

Sistema límbico – É a unidade do cérebro responsável pelas emoções. É uma região constituída de neurônios, células que formam uma massa cinzenta;

Tálamo - Parte do cérebro correlacionada com as reações da reatividade emocional do homem e dos animais;

HipotálamoÁrea do cérebro que controla o comportamento e várias condições internas do corpo, como a temperatura, o impulso para comer e beber etc.;

Área tegmental ventral - Grupo de neurônios localizados em uma parte do tronco cerebral. Uma parte dele secreta dopamina. A descarga espontânea ou a estimulação elétrica dos neurônios da região do paminérgica mesolímbica produz sensações de prazer, algumas delas similares ao orgasmo.

 

Visto em: Ciência e Cultura

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