O homem é um ser muito especial. Por ser um animal, é aparentado com os demais animais que vivem no planeta. Por ser especial, é o único capaz de estudar de forma sistemática o mundo, de transformá-lo em profundidade e de arcar com a responsabilidade por essas transformações.
Se tivéssemos que classificar o homem usando a escala zoológica, diríamos que ele é um metazoário que pertence ao filo dos Cordados, ao subfilo dos vertebrados, à classe dos mamíferos e à ordem dos primatas. Dentre os primatas, ele faz parte da família dos hominídeos, é do gênero Homo e da espécie Homo sapiens.
Denominamos Homo sapiens (que significa “homem sábio”) as espécies de hominídeos que possuem um esqueleto semelhante ao nosso, além do mesmo – ou quase mesmo – volume craniano. Reconhecem-se três variedades: o H. sapiens arcaico (parecido com o Homo erectus), o H. sapiens neanderthalensis, ou Homem de Neanderthal, e o H. sapiens sapiens, variedade à qual pertencemos. A nossa espécie – Homo s. sapiens – é a única espécie de hominídeos que sobreviveu até hoje. Os fósseis mais antigos datam de 200.000 anos, mais ou menos.
Obviamente, a nossa sobrevivência se deve à nossa adaptação ao ambiente, isto é, nós estamos “de bem” com a seleção natural, por enquanto.
A evolução é um processo muito lento. Conhecemos o mecanismo básico: o ambiente age sobre as populações, nas quais há variabilidade, selecionando os organismos com características mais adaptadas em relação ao ambiente; por isolamento geográfico e, posteriormente, reprodutivo, podem surgir novas espécies.
Por ser um processo muito lento, não faz parte da nossa experiência de vida presenciarmos o surgimento de novas estruturas numa espécie a partir de outras que já existem. No entanto, uma coisa é certa: as grandes mudanças da evolução, que levam milhões de anos para acontecer, são na realidade constituídas pela soma de muitas pequenas mudanças, quase imperceptíveis, que ocorrem ao longo dos tempos.
O cientista que estuda a Genética das Populações se interessa exatamente por essas “micromudanças”, que, somadas, constituem um processo evolutivo mais amplo. Por exemplo, uma simples modificação na porcentagem de genes alelos dentro de uma população, no decorrer de um curto período de tempo, é um indício que está ocorrendo uma “microevolução”. Isto é, descobrir que a taxa de um gene está aumentando com o tempo já faz perceber que está acontecendo uma evolução, embora em miniatura.
Vejamos alguns exemplos:
190 mil anos atrás: Embora a linhagem dos hominídeos seja mais antiga, aparecem durante essa época os primeiros fósseis cuja anatomia é praticamente idêntica à nossa. No entanto, não apresentavam cultura, comportamento complexos ou instrumentos refinados para o uso no cotidiano.
35 mil anos atrás: Durante esse período, é provável que o H. sapiens neanderthalensis tenha se cruzado com a nossa espécie. Durante esse cruzamento, um gene específico que favorecia o crescimento do cérebro foi introduzido em nosso genoma. O aumento da frequência desse gene sugere que ele foi favorecido pela seleção natural – afinal, um cérebro mais evoluído é bastante vantajoso.
20 mil anos atrás: Nessa época, surgiu a cera de ouvido. Ora, você deve se perguntar: “Afinal, o que tem de mais?”. No entanto, calma lá! Acontece que o mesmo gene que regula essa característica também diminui a produção de suor. Alguns cientistas propuseram que ele surgiu entre os povos que habitavam o nordeste do continente asiático, um lugar bastante frio – lá, não é uma boa ideia ficar suando nas temperaturas baixíssimas.
10 mil anos atrás: Surgem os primeiros humanos com olhos azuis. A mutação teria se espalhado através da seleção sexual – algum grupo pode ter achado a característica atraente.
6 mil anos atrás: Por volta de 6 mil anos atrás, os adultos tornaram-se capazes de digerir leite (lactose). Na maior parte da história humana, somente as crianças bebiam leite puro. Entretanto, com a domesticação das vacas, tornou-se vantajoso para os adultos também absorver o alimento.
1,2 mil anos atrás: Em algum lugar da Europa – possivelmente Grã-Bretanha ou Irlanda -, uma alteração genômica no gene HFE aumentou a capacidade do nosso organismo de absorver ferro, conferindo, portanto, maior proteção contra anemia.
700 anos atrás: Em algum lugar da Europa, durante a Idade Média, uma mutação que “desligou” o gene CCR5 deu aos indivíduos que possuíam tal gene maior resistência à AIDS – o CCR5 funciona como uma “porta” para o vírus HIV. É que ele também protege contra o micróbio da peste negra.
Ao que tudo indica, a nossa evolução não cessará tão cedo. A população humana cresceu umas 7 mil vezes desde que a agricultura surgiu, chegando à incrível marca de 7 bilhões de indivíduos habitando o planeta Terra. Mais pessoas significa mais cópias do DNA humano circulando pelo mundo. Mais cópias = mais mutações nesse DNA – e mutações são o motor da evolução. Não obstante, o H. sapiens sapiens colonizou praticamente todos os ambientes do planete Terra e criou culturas das mais variadas – ou seja, um grande número de oportunidades para que as novas mutações sejam vantajosas.
Visto em: Mistérios do Mundo