quinta-feira, maio 31, 2012

Comer carne é ético

190_20090131173026p68 Fogo Samba rodizio em MacauO texto abaixo é de uma renomada especialista em bem-estar animal, Temple Grandin, professora de bem-estar animal da Universidade do Estado de Colorado,  foi enviado para o jornal The New York Times em resposta ao concurso que perguntou aos leitores por que é ético comer carne.  Grandin é autora das diretrizes sobre manejo animal e programa de auditoria da Fundação Instituto Americano de Carnes (AMIF, sigla em inglês).

Por: Temple Grandin

Humanos e animais se desenvolveram juntos. Nossos cérebros são ajustados aos animais. Pesquisa com pacientes com epilepsia que tinham dispositivos de monitoramento implantados em seus cérebros, mostraram que a amígdala responde mais a retratos de animais, comparado a retratos de locais de referência ou pessoas.

Os seres humanos têm uma ligação intrínseca com os animais. Pesquisas científicas indicam que os animais têm emoções e que sentem dor e medo. É nossa obrigação fornecer aos animais que criamos para produção de alimentos uma vida decente. Eu frequentemente sou questionada, “Como você pode se preocupar com animais e estar envolvida no desenvolvimento de projetos de abatedouros que são usados para matá-los?”. Eu respondi essa questão em 1990, após ter completado a instalação de uma nova peça de um equipamento que tinha projetado para manejo de gado nos abatedouros. Eu estava em pé em uma passarela, enquanto centenas de bovinos entravam no meu sistema. Naquele momento percebi que nenhum daqueles animais teria existido se pessoas não os tivessem gerado e criado.

Nossa relação com os bovinos deveria ser simbiótica. Simbiose é um conceito biológico de relação mutuamente benéfica entre duas diferentes espécies. Existem muitos exemplos de simbiose ou mutalismo na natureza. Um exemplo é o das formigas que usam os afídeos para obter sua secreção de açúcar e, em troca, eles são protegidos de seus predadores. Infelizmente, a relação nem sempre é simbiótica e, em alguns casos, a formiga explora os afídeos. Existem problemas similares em sistemas agrícolas mal manejados e muito intensivos. Existem algumas práticas de produção que precisam ser mudadas. Na indústria pecuária, conheço muitas pessoas que são verdadeiros administradores de seus animais e de sua terra. Sua relação com os animais e com sua terra é verdadeiramente simbiótica. Isso é mutuamente benéfico para os animais e para o meio-ambiente. O abate de animais para a produção de alimentos é ético se os animais têm o que o Conselho de Bem-Estar Animal da Inglaterra chama de uma vida que vale ser vivida.

Tenho participado de conferências sobre pastagens e aprendido que quando a pastagem é feita corretamente, pode melhorar o pasto e sequestrar carbono. Amimais ruminantes que comem pasto não são os destruidores ambientais que algumas pessoas dizem que são. O pastejo rotacionado pode estimular mais crescimento de plantas e o crescimento de plantas ajuda a remover carbono da atmosfera. Animais ruminantes como bovinos, bisões, caprinos e ovinos são a única maneira de produzir alimentos em terras que não são adequadas para agricultura. Ronald C. Follett, do USDA-ARS-NPA em Fort Collins, Colorado, diz que as terras de pastagens têm potencial para sequestrar carbono. De acordo com pesquisadores da Universidade Nacional no Panamá, a conversão de campos de pasto da América do Sul em produção de soja reduzirá o armazenamento de carbono. A agricultura orgânica seria impraticável e extremamente difícil sem o esterco animal para fertilização. Outra questão que precisa ser colocada em perspectiva é a emissão de metano. É provável que 80% de todas as emissões de metano venha da queima de carvão de plantas geradoras de energia, produção de arroz e depósitos de lixo.

Tenho uma razão final de porque acho que comer carne é ético. Meu metabolismo requer proteína animal e fico tonta e incapaz de me concentrar se tiver uma dieta vegan. Devem existir diferenças metabólicas na necessidade de proteína animal. Existem práticas que precisam ser mudadas para serem verdadeiramente direcionadas para os animais e o meio-ambiente.

Fonte: Beef Point

terça-feira, maio 29, 2012

quinta-feira, maio 24, 2012

Ateu sofre preconceito?

ateismo3“Ateu não sofre preconceito! Normalmente só é ateu quem tem boa condição de vida. Ateu não é discriminado, não passa por dificuldades na vida por ser ateu.” Decerto, você já ouviu alguma dessas afirmações. Provavelmente, emitida por uma pessoa religiosa e que não consegue enxergar que o preconceito pode ser externalizado em muitas atitudes diferentes. Alguns preconceitos são mais visíveis e dirigidos a determinadas classes de pessoas, como ocorre com a população afrodescendente ou homossexual – as pessoas torcem o nariz visivelmente e explicitamente negam oportunidades a elas, inclusive discutindo a possibilidade de negação de direitos sem apresentar qualquer justificativa válida.

Outras atitudes preconceituosas são mais veladas, contudo. Os afrodescendentes estão muito acostumados com esse tipo de preconceito: o da invisibilidade. É o que acontece quando você vive em um país em que boa parte das pessoas pobres são negras e cuja educação pública é de péssima qualidade? Acontece que boa parte dos estudantes afrodescendentes terão menos oportunidades do que os estudantes brancos e, portanto, dificilmente alcançarão o mesmo resultado que os brancos. Além disso, isso se reflete em sua autoestima: como pouquíssimos estudantes negros alcança sucesso — e os casos de sucesso ocorrem normalmente em outras atividades menos intelectuais, como o esporte, provavelmente eles sairão mal em atividades intelectuais, mesmo que intrinsecamente pudessem ter maior sucesso na Academia.

Os ateus sofrem com os dois tipos de preconceito. Se é verdade que muitos negros ainda sofrem preconceito direto de pessoas que infelizmente ainda não aprenderam que todos são iguais e devem ser intrinsecamente respeitados, o preconceito contra eles ao menos já está caindo na categoria do “politicamente incorreto”. O movimento LGBT, por sua vez, também tem conseguido importantes avanços na luta por seus direitos, apesar de os homossexuais serem ainda muito discriminados por grande parcela da população e por importantes meios de comunicação.

A discriminação contra os ateus é direta: há pelo menos duas redes de televisão – uma católica e uma evangélica – que todo santo dia (usei a expressão de propósito, não foi ato falho!!) atacam ateus, dizendo que a culpa de todas as desgraças do mundo, desde que deus criou o mundo há 6.000 anos, são nossa culpa (ironia – e eu me recuso a escrever deus com letra maiúscula).

Vamos para um exemplo. Imagine que um político importante em um certo país europeu inflame seus apoiadores a se revoltar contra os judeus, dizendo que a culpa do desemprego e da violência é deles. Dou um doce se você me disser a quem estou me referindo. Vocês diriam que não é um discurso discriminatório?

De noite, você vai a um jantar de família e as pessoas resolvem agradecer a deus pela comida (ninguém lembra de agradecer ao agricultor, ao motorista do caminhão ou ao dono da quitanda, ou mesmo a quem trabalhou para ter dinheiro e comprar o alimento). Alguém resolve rezar o pai nosso: você, para não ficar constrangido e estragar o barato dos outros, dá as mãos e fica em silêncio. Sua tia, que está ao seu lado, quebra o protocolo e abre os olhos pra ver se você está rezando direitinho. Como você é ateu, está em silêncio. Algo te diz para olhar pro lado, e você dá de cara com o olhar de reprovação da titia, que depois faz um discurso inflamado contra a juventude sem deus, te constrangendo nitidamente. Não que ser ateu seja algo constrangedor, mas ser exposto por causa de suas crenças, quando você estava respeitando as crenças de todo mundo, é extremamente embaraçoso. Você se sente o cocô da mosca que pousou no rabo do cavalo do bandido; chega até a pensar se não vale a pena repensar suas crenças para levar a vida com menos constrangimentos. Sei disso porque passei exatamente por esta situação há alguns anos. Você se sente envergonhado de ser o que você é.

Mas os ateus sofrem bastante com um outro tipo de discriminação, a invisível. Você vai a um tribunal e lá está um crucifixo – fico imaginando se o juiz iria se declarar suspeito para decidir um caso de interesse da igreja Católica, se o Judiciário afixa um crucifixo na parede de cada sala de audiência. Se os negros, com razão, se sentem diminuídos quando não se vêem representados em posição de respeito numa novela ou em um filme, nós ateus também nos sentimos assim.

Você se lembra de algum filme arrasta-quarteirão de Hollywood em que o mocinho era ateu? Não? Eu só lembro de um: Contato, baseado no livro de (e quem mais poderia ser?) Carl Sagan. Um filmaço, mas que a mídia americana nem considerou sequer cogitar para o Oscar nas categorias principais. A edição de som do filme chegou a ser indicada. Mas a atuação brilhante de Jodie Foster não foi nem elogiada pelos principais canais. Até “Homens de Preto” (aquele, com o Will Smith) foi indicado em três categorias no mesmo ano. Não é mania de perseguição, até porque outros excelentes filmes também não receberam a estatueta (até porque, como sabemos, muitas vezes o critério não é técnico), mas a meu ver isso é fruto da discriminação velada que existe contra os ateus. Carl Sagan era ateu, assim como Jodie Foster e, mesmo tendo a direção dado uma boa mitigada no ateísmo do filme (quando comparado ao livro), seria difícil ir contra o mainstream politicamente correto (porque é politicamente incorreto ser ateu, na maior parte dos meios).

Tente arrumar um emprego dizendo, na entrevista, que você é ateu. Tente se candidatar a um cargo eletivo dizendo, em sua campanha, que é ateu. Não vai nem arrumar o emprego, nem ser eleito. Duvida? Há algum tempo atrás massacraram Dilma Roussef porque ela disse que era contra o aborto e fez errado o sinal da cruz.

Como corrigir essa situação? Só vejo um caminho – expondo publicamente nossos ideais.

Um texto de Fabio Portela

Fonte: Bule Voador

domingo, maio 20, 2012

Quem toma café vive mais

3952431.homem_tomando_cafe_ig_estilo_224_298É o que mostra uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com pouco mais de 400 mil pessoas. Em 14 anos de estudo, cientistas compararam a taxa de mortalidade de quem bebe café com aqueles que não bebem. Resultado: houve menos mortes entre os participantes que tomavam, pelo menos, 3 xícaras ao dia, do que aqueles que não tomavam café.

Quem bebe menos de 3 xícaras ganha uma vantagem ínfima sobre quem dispensa o café, quase irrelevante. Mas quem toma de 4 a 5 xícaras diariamente tem vantagem sobre todos. É a medida ideal. Homens que bebiam essa quantidade tinham até 12% menos chances de morrer; já as mulheres tinham mais 16% de chances de viver – sempre na comparação com quem não toma nada de café.

Para os mais viciados, que tomam 6 xícaras ou mais ao dia, as chances de morrer diminuem 10% neles e 15% nelas. Quem bebe de 2 a 3 xícaras, pode viver até 10%, se for homem, e 5%, se for mulher.

Apesar da associação positiva entre sobrevivência e consumo de café, os pesquisadores não garantem que o mérito de viver mais seja exclusivamente da bebida. “Não é possível concluir que essa relação entre consumo de café e mortalidade reflete causa e efeito”, diz Neal Freedman, chefe da pesquisa. “Mas podemos especular sobre os benefícios do café na saúde. Este estudo mostrou uma relação inversa entre o consumo da bebida e as mortes”. A pesquisa considerou todos os motivos de óbitos: desde derrames até infecções e diabetes.

Então, vamos tomar um café?

Visto em: Super Interessante