segunda-feira, setembro 13, 2010

A Origem, todos querem saber dele

O sucesso de um filme pode ser medido não só pelo barulho das caixas registradoras, mas também pelo barulho que causa fora das salas de cinema. Dito isso, então “A Origem” (Inception) é o maior êxito do ano. Há mais de um mês em cartaz (no Brasil, chegou em 6 de agosto), o novo longa do diretor Christopher Nolan caminha para se tornar uma peça de culto.
Até o Google está confuso. Há dois meses, quem digitasse “inception + theory” seria levado para grupos de discussão do livro “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin. Hoje, o internauta é dirigido para milhares de páginas que desdobram nos mais variados níveis o filme no qual Leonardo DiCaprio interpreta um ladrão de sonhos com a missão de inserir uma ideia na cabeça do herdeiro de um império econômico.
Somente no fórum sobre o filme no IMDB, o mais popular site de informações sobre cinema, existem mais de mil tópicos. No Facebook, quase 1,8 milhões de pessoas sinalizaram ter “curtido” o filme. No Twitter, “Inception” está nos trending topics há pelo menos um mês. Na história recente, apenas o filme “Matrix”, em 1999, e o seriado “Lost”, que terminou este ano, foram capazes de gerar frenesi parecido. Em comum, os três trazem a mistura bem dosada de ficção científica, fantasia e ação, em uma narrativa não linear. O resultado também foi o mesmo: milhões de pessoas discutindo os mais ínfimos detalhes, fazendo surgir um universo original e autônomo que foge ao controle dos criadores das obras.
Pululam na internet teorias para explicar o final de “A Origem”, análises psicanalíticas sobre temas como memória e culpa, informações sobre como as pessoas podem “dirigir” seus sonhos para se livrar de pesadelos (com tratamentos terapêuticos ou farmacológicos) e até experiências sonoras como aquela em exibição no YouTube. Internautas diminuíram a rotação da canção “Non, Je Ne Regrette Rien”, escolhida pelos personagens para serem “chutados” do estado de torpor para a realidade, até o ponto em que ela parece se fundir com a trilha incidental composta por Hans Zimmer, como a sugerir que a todo tempo os personagens estivessem para ser despertados. Sobre a canção, aliás, vale citar que ela é interpretada por Edith Piaf, que foi encarnada no cinema por Marion Cotillard, que, por sua vez, faz em “A Origem” a mulher de Dom Cobb, que, por sua vez, ao contrário do que diz a letra em francês, vive no arrependimento.
No Brasil, um dos sites mais acessados sobre o assunto é o Saindo da Matrix, do pernambucano que atende pelo pseudônimo de Acid. Suas teorias sobre “A Origem” mesclam um pouco de tudo, indo do espiritismo à mitologia e utilizando conceitos de psicanálise.
Para Acid, o zunzunzum gerado era esperado desde o início: “A Origem não é uma experiência passiva, ordenada. Somos apresentados a um mundo e depois somos chutados dele porta afora do cinema, e de alguma forma queremos mais, queremos prolongar essa sensação, essa experiência. Por isso voltamos a ver o filme, comparamos detalhes, trocamos ideias e percebemos coisas novas cada vez que o revemos.”
À receita do bolo, a psicanalista Diana Corso acrescenta: “Discutir os sonhos, e tudo o que eles encerram, leva a um autoconhecimento inédito e bem vindo. Existe um desejo de compartilhar o mistério, talvez por essa ideia de que existe mais por dentro de nós mesmos do que conhecemos. É uma massa de gente compartilhando a consciência do inconsciente.”
Mas como todo hype, “A Origem” dividiu a opinião dos críticos no Brasil. Boa parte mostrou-se cética com relação à ambiciosa proposta de Nolan.
Contém Spoilers – Debruçando-se sobre o filme
A sociedade do anel Quem viu “O Sexto Sentido” sabe que, sempre que um espírito estava presente, algum objeto vermelho era mostrado na cena. Assim, era possível – assistindo uma segunda vez – distinguir que, de fato, um dos personagens estava morto. Em “A Origem”, o anel de noivado de Cobb é o que indica se ele está sonhando ou acordado. Partindo do pressuposto de que ele só vê a esposa no mundo dos sonhos, e que nele ele ainda a ama (tanto que não a mata quando tem a oportunidade), nada mais natural do que manter o adereço. Já no mundo real ele não usa o anel. Um detalhe que não passou despercebido pelos fãs do site Revolving Door Project, que congelaram trechos do filme nos quais aparece a mão de Leonardo DiCaprio para comprovar sua teoria.
Totem é tatabu
O site Cinema Blend teorizou a respeito de um detalhe do final: o pião cai ou não? Pela lógica, isso definiria se Cobb está sonhando. Para os responsáveis pelo site, o fato de o totem funcionar apenas no sonho de outra pessoa permitiria ao sonhador (no caso Cobb) manipular seu próprio totem quando no seu próprio sonho e, assim, enganar-se.
Crianças iguais? Outro detalhe controverso da cena final é o que mostra Cobb reencontrando os filhos na volta ao lar. As crianças estão vestidas praticamente com as mesmas roupas com que eram vistas em suas memórias e sonhos, têm o mesmo porte físico e estão posicionadas de maneira similar. Então, tudo não passaria de um sonho? Uma consulta ao site Internet Movie Data Base (IMDB) indica que não: no elenco de “A Origem” constam dois atores mirins, um mais novo e outro mais velho, para interpretar cada um dos filhos de Cobb. Logo, os guris podem até serem parecidos, mas – oficialmente – não são os mesmos. E as roupas são diferentes, afirmou categoricamente Jeffrey Kurland, responsável pelo figurino, ao site Clothes On Film.
Sonho do sogro
O site Saindo da Matrix diz que o grande manipulador por trás das ações de Cobb é seu sogro, Miles (Michael Caine). Em sua última conversa, na sala de aula da universidade onde Miles leciona, ele “planta” na cabeça do ladrão a ideia de que deveria se perdoar pela morte da mulher e voltar para os filhos. Como cúmplices, o veterano professor usaria uma nova pupila, a arquiteta Ariadne, o químico Yusuf e o empresário Saito. Todos ajudariam o rapaz a pacificar os pesadelos referentes a Mal ao mesmo tempo em que cumprem a missão em Fischer. São duas as possibilidades: ou Miles estaria manipulando Cobb desde o encontro em Paris ou o processo começa na África, quando ele testa o poderoso sonífero que o faria dormir – até o fim.
Fonte: Jornal A Notícia

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